top of page
Buscar

O Brasil pela Igualdade Racial



Estou profundamente honrada por ter sido convidada pelo Ministério da Igualdade Racial, para republicar um dos meus trabalhos literários nos Cadernos Negros, paralelo ao G20 Social de 2024, em prol da igualdade racial no Brasil. Vivo um momento de êxtase por saber que minha obra literária toca vidas, e sinto uma imensa felicidade de fazer parte deste momento, deste trabalho que começou muito tempo atrás, iniciado por aqueles que vieram antes de mim. São sementes plantadas por nossos ancestrais, através das lutas de homens, mulheres e até mesmo crianças, que deram suas vidas para que hoje pudéssemos usufruir da liberdade que temos.

Ao ler “Tornar-se Negro”, me deparei com o capítulo "Loucart - A quem serve a arte?", que evidencia, mais uma vez, a questão da valorização – uma valorização que nos foi tirada. Há séculos vivemos um epistemicídio tão violento que até nós, povo negro, fomos levados a não reconhecer a grandiosidade de nossa existência.

Lembro-me de uma aula de inglês que tive a oportunidade de cursar em Nova Iorque. Uma colega japonesa, ao saber que eu escrevia poesia, ficou admirada. E como de costume, respondi: “Ah, não é tão difícil”, como quem diz: “É apenas poesia”. Ela prontamente me respondeu que era, sim, algo difícil, pois ela mesma não escrevia nem conhecia quem o fizesse. E completou, dizendo que escrever era um dom, uma dádiva. Suas palavras me silenciaram e me fizeram refletir sobre o quanto nós, negros, muitas vezes temos a infeliz mania de desvalorizar nossas próprias realizações. É uma subestimação inconsciente, que fazemos de nós mesmos, pois, como diz a psiquiatra Neusa Santos, precisamos nos “tornar negros”, uma vez que vivemos sob as lentes impostas pelo sistema racista. Pensamos: “Não sou bom o suficiente”, “o que faço não é tão importante”, e buscamos como parâmetro o eurocentrismo, que nos impôs, por meio do racismo estrutural, um sentimento de inferioridade. Isso destruiu e ainda destrói nossa autoestima. Neusa Santos diz que “saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas expectativas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas.” E afirma ainda: “Uma das formas de exercer autonomia é possuir um discurso sobre si mesmo. Discurso que se faz muito mais significativo quanto mais fundamentado no conhecimento concreto da realidade.” Ou seja, mesmo com as agressões do racismo, devemos reconhecer a importância de nossa identidade e reconstruir quem realmente somos.

A literatura é arte, e a arte é criação. É uma forma de expressar nosso grito, nossas dores, esperanças e alegrias. É sentir e mostrar. É se comunicar com o mundo. Precisamos nos ver como sujeitos e referências para nós mesmos. Como Neusa Santos afirma, precisamos nos comprometer em resgatar nossa história e recriar nossas potencialidades.

Reverencio o coletivo Quilombhoje, que desde 1978 vem resistindo com os "Cadernos Negros", apresentando tantas vivências de luta e valorização. Um trabalho que nos permite continuar reverberando vozes que antes eram silenciadas.Um Salve à igualdade racial no Brasil e no mundo, e que nosso ori se fortaleça a cada dia mais com axé e sabedoria.




Comments


Alessandra Martins

©2024 Por Alessandra Martins.

Textos autorais  desta página são protegidos por direitos autorais. A reprodução, distribuição ou qualquer utilização sem a devida autorização está proibida por lei. Caso tenha interesse em compartilhar ou utilizar algum material, entre em contato para obter a permissão necessária.

bottom of page